Preste atenção: você nunca — e eu digo nunca mesmo — vai ter 100% de lucro no seu negócio. Isso simplesmente não existe. Nem 100%, nem 200%, nem 300%.
E antes que alguém diga que isso é exagero, vamos entender o porquê: essa crença está entre os maiores erros que pequenos empresários cometem na hora de fazer contas e avaliar resultados. Essa ideia falsa cria expectativas irreais, leva a precificações erradas e, pior, mascara problemas financeiros sérios que podem levar um negócio saudável à falência.
A origem do mito: por que tanta gente acredita que tem 100% de lucro?
Essa ideia do “100% de lucro” vem de um cálculo simples, mas incompleto: o empresário pega o custo do produto e dobra o valor para definir o preço de venda. Por exemplo:
- Custo do produto: R$ 20
- Preço de venda: R$ 40
- “Logo, tive 100% de lucro!”
Errado. O que houve foi uma marcação de preço (markup) em 100% sobre o custo. Mas isso está bem longe de representar o lucro real do negócio. Só considerar o custo do produto ignora uma série de despesas que fazem parte do funcionamento da empresa.
Essa lógica é reforçada por conversas entre empreendedores, vídeos na internet e até matérias em portais de negócios. É comum ver frases como:
“Esse produto tem margem de lucro de 100%”
“Vendo por R$ 50, e me custa R$ 25, então ganho 100%”
Esse tipo de pensamento não considera impostos, salários, aluguel, energia, marketing, comissões, fretes… e tantos outros custos que compõem a estrutura da empresa.
Veja um exemplo abaixo (na última coluna, considere que a empresa vendeu mil unidades):
Unid. | ||
Venda |
30,00 |
30.000,00 |
Materiais |
15,00 |
15.000,00 |
Impostos e comissões |
3,00 |
3.000,00 |
Ganho do produto |
12,00 |
12.000,00 |
Ganho percentual do produto |
40,0% | |
Despesas Fixas |
9.000,00 | |
Lucro |
|
3.000,00 |
Percentual de lucro |
10,0% |
E aí, onde está o lucro de 100%?
O formato acima segue a estrutura base um Fluxo de Caixa perfeito. Acesse nosso artigo “Fluxo de Caixa – Tudo o que você precisa saber“
Qual a forma correta de pensamento?
São duas coisas que você deve considerar:
1 – Estes “100% de lucro” que você ganha sobre o produto são a Taxa de Marcação (ou markup). Ou seja, quanto você está colocando acima do seu custo do produto / serviço para gerar lucro, pagar impostos, comissões e pagar as contas fixas.
2 – Podemos considerar que a empresa tem “dois lucros”. O primeiro é o lucro sobre o produto (sem considerar as contas fixas) e o segundo é o lucro líquido final. No exemplo anterior, no ganho sobre os produtos, houve um lucro de 40%. Isso significa que para cada produto vendido, eu ganhei 40% do valor da venda.
Mas o que realmente importa é o lucro final, que no exemplo acima é de apenas 10%. Ou seja, de tudo que eu vendi, sobrou efetivamente apenas 10%.
Lucro é aquele dinheiro que, de fato, sobra em relação às vendas. Isto é, todas as entradas menos todas as saídas. Se sobra, é lucro. Se falta, é prejuízo.
(temos um artigo super completo sobre Lucro e Lucratividade. Confere aqui!)
Por isso o lucro de 100% é uma grande falácia. É um pensamento errado que, infelizmente, é reforçado pelas mídias (mídias especializadas também) e por muitos consultores por aí.
Mas qual a real diferença de tudo isso?
Esta forma correta de pensamento não é simples academicismo. Diga para si mesmo as duas frases a seguir:
“Tenho lucro de 100% sobre os produtos”
“Tenho lucro de 40% sobre os produtos”
Qual deles lhe dá uma sensação melhor? O primeiro, claro. Mas qual dá uma grande ilusão de ganho? O primeiro também!
Então, além de inúmeros fatos de cálculos financeiros (não entraremos aqui nos detalhes), esta ilusão dos 100% de lucro lhe faz pensar que está gerando um ganho que na prática não é real!
O que é markup e por que ele não é lucro?
A confusão entre markup e lucro é um dos erros mais comuns na gestão financeira de pequenos negócios. O markup é uma taxa de marcação sobre o custo de um produto. Ele é utilizado para formar o preço de venda, incluindo não só o lucro desejado, mas também todos os outros custos da operação.
Vamos detalhar isso com um exemplo:
- Custo direto do produto: R$ 20
- Despesas indiretas da empresa (fixas e variáveis): R$ 10 por unidade vendida
- Margem de lucro desejada: R$ 5 por unidade
O preço de venda, então, deveria ser pelo menos R$ 35. Nesse caso, o markup aplicado seria de 75% (R$ 15 sobre os R$ 20 de custo). Mas perceba: o lucro real não é de 75%, é de R$ 5.
O markup é uma ferramenta de precificação, não um indicador de rentabilidade. Ele ajuda a definir quanto você precisa vender para pagar os custos e, só depois disso, obter lucro.
Temos um artigo completo sobre markup, clique aqui para ler!

Lucro bruto e lucro líquido: qual é a diferença prática?
O Lucro bruto
Lucro bruto é o valor que sobra da venda de um produto depois de pagar o custo direto daquele item, sem contar o restante das despesas da empresa.
Exemplo:
- Vendeu por R$ 50
- Custo do produto: R$ 25
- Lucro bruto: R$ 25 (ou 50%)
Só que esse valor não está “sobrando” de verdade. Ele ainda precisa cobrir o restante dos gastos operacionais.
Lucro líquido
Esse sim é o lucro real da empresa: é o que sobra depois de pagar tudo( aluguel, energia, folha de pagamento, impostos, comissões e qualquer outra despesa)
Se depois de todas essas saídas você ficou com R$ 5, então o lucro líquido é R$ 5, mesmo que o produto tenha “rendido” R$ 25 de margem bruta.
Essa distinção é fundamental para o empresário não se enganar com números bonitos e manter a empresa com a saúde financeira em dia.
As armadilhas do pensamento “100% de lucro”
Acreditar que você tem 100% de lucro é mais do que um erro matemático. É uma ilusão perigosa que pode afetar profundamente o seu negócio. Veja como:
1. Você pode gastar mais do que pode
Achando que está “sobrando dinheiro”, é comum o empresário gastar com melhorias, contratar sem planejamento ou até retirar mais pró-labore, acreditando que está tudo bem financeiramente.
2. Preços mal definidos
A lógica do “dobro do custo” ignora impostos, comissões, taxas de cartão e outras despesas. Resultado: o produto pode estar sendo vendido abaixo do valor necessário para cobrir as contas, e a empresa vai operar no vermelho sem perceber.
3. Perda de controle sobre a real lucratividade
Com essa visão distorcida, fica impossível saber se o negócio está sendo rentável de verdade. O empresário vê dinheiro entrando, mas não entende por que está sempre com o caixa apertado ou endividado.
Como calcular o lucro real da sua empresa?
Para calcular corretamente o lucro da sua empresa, você precisa de um controle financeiro básico, mas eficiente. O modelo mais simples envolve:
- Faturamento total (entradas)
- Todos os custos diretos (como matéria-prima, produção, embalagem, comissão, impostos e etc.)
- Todas as despesas fixas (aluguel, salários, contadorm estrutura e etc.)
- Resultado = Lucro líquido (faturamento – custos – despesas)
Esse é o número que você deve acompanhar, mês a mês, para saber se sua empresa está indo bem. Se estiver negativo, é prejuízo. Se estiver positivo, aí sim, é lucro, e geralmente bem longe dos “100%” que muitos acreditam ter.
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A realidade do lucro nas pequenas empresas
É comum vermos empresas saudáveis com lucros líquidos entre 8% e 25% do faturamento. Isso significa que, de cada R$ 100 mil vendidos, sobra de R$ 8 mil a R$ 20 mil no caixa da empresa.
Empresas que conseguem ultrapassar essa média normalmente:
- Têm boa gestão de custos
- Sabem precificar corretamente
- Mantêm controle financeiro rigoroso
- Otimizam processos e recursos
É um trabalho que exige conhecimento e prática, e não mágica.
O verdadeiro lucro está na gestão, não na margem ilusória
A ideia de que você tem 100% de lucro pode parecer confortável, mas é um erro que sabota sua empresa por dentro. Ela distorce sua visão, compromete sua tomada de decisão e mina seu crescimento.
Se você quer mesmo construir um negócio lucrativo, precisa olhar para os números certos, entender o que é lucro de verdade e tomar decisões com base em dados, não em suposições.
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